quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Poder Surdo

Excluídos pela inclusão, ouvimos. Ainda há muito o que se pesquisar da escuta surda, suas sutilezas de nuances e matizes, que somente os surdos poderão nos ensinar. Os ouvintes podem sentir isto na sinfonia corpórea ao vídeo ou em qualquer conversa libriana. Reduzir o som à escuta auricular é o absurdo do olvido da pele. As libras são um avanço mais importante nas pesquisas de linguagens musicais que qualquer coisa que Karajan ou Abado possam ter feito, abertura de regimes imprecindível entre regência, chirologia, dança e mesmerismo sígnico. Ainda está porvir o musicólogo surdo que esclarecerá as obras finais de Ludwing Van para que um maestro surdo a faça soar para a glória do compositor e sua composição. Ainda encontrarei a soprano surda que cantará minha ópera Gallaudet.
Se levarmos em conta as ferramentas de composição computacional atuais[max,pd,supercollider,synthedit,reason,etc], veremos que cada vez mais a música radical é de mais fácil acesso ao surdo que ao cego.
"A música é boa para a melancolia, má para quem está de luto, e nem boa nem má para os surdos"
Baruch Spinoza

E é neste sentido que esta escuta surda se demonstra potente, ela por princípio se ausenta de qualquer valoração moral. A luta de um movimento dos surdos, e aqui fala um ouvinte deste, não se resume à urgência do mantenimento de escolas especializadas, mas a uma ampla valoração musical da escuta surda e uma redisseminação cultural da linguagem de sinais, pois são meramente sinais todas as linguagens... sinais de uma audição além da escuta destes corpos ideogramas em suas danças haikais.

Nenhum comentário: